Com frequência crescente, vejo partidas de futebol na TV e me surpreendo: cadê o time que quero assistir? Será que estou no canal errado?
No Campeonato Inglês, Burnley enfrentou o Liverpool, atual campeão da Premier League. Um time usava uniforme vinho e o outro, verde. Onde estava o Liverpool com seu tradicional uniforme vermelho?
O vermelho pode confundir com a camisa do time da casa. Na verdade, o segundo uniforme do Liverpool é branco, mas Salah e seus companheiros estavam de… verde.
Por que essa escolha? Embora tenha uma explicação, é difícil aceitá-la. O escudo do Liverpool, que por muitos anos foi vermelho e branco, agora apresenta detalhes em verde.
Por isso, a equipe, conhecida como Reds (Vermelhos), optou por usar seu terceiro uniforme no jogo. Essa tendência de usar um terceiro kit não é nova, mas tem se intensificado.
Na Champions League, o Atlético de Madrid, que normalmente veste listras verticais vermelhas e brancas, jogou todo de azul contra o Liverpool.
O Arsenal também adotou um uniforme azul escuro em uma partida contra o Athletic Bilbao, apesar de ser conhecido por seu uniforme vermelho com mangas brancas. Isso fez com que alguns lembrassem do Chelsea, seu rival londrino que costuma jogar de azul.
O azul se destaca como a cor da moda para a descaracterização, inclusive no Brasil.
No Campeonato Brasileiro, o Santos trocou seu manto branco e jogou de azul-claro em casa, na Vila Belmiro. O Sport Recife também usou uma camisa azul esverdeada recentemente, na Ilha do Retiro.
Nesses casos, assim como o rubro-negro Milan, que já jogou em amarelo inexplicavelmente, não dá para dizer que essas cores estão no escudo do clube.
Dirigentes e marqueteiros podem discordar, mas acredito que a razão pela qual os times vestem uniformes inusitados é comercial.
Ao contrário dos torcedores mais velhos, os mais jovens são mais flexíveis com novidades. Eles representam um mercado consumidor significativo e estão dispostos a pagar valores altos, como R$ 499,99 pela terceira camisa do seu clube, apenas para ter a peça.
Cada um tem o direito de comprar e usar o que quiser, mas, a não ser que alguém vá a uma festa ou bloco de Carnaval, para mim é incoerente associar seu time a uma cor sem identidade.
Há dez anos, o Corinthians usou um uniforme laranja em uma partida. Este ano, houve boatos de que relançaria essa cor, mas o novo uniforme será preto com detalhes em abóbora, em homenagem ao jogador Memphis Depay, que por sua vez é associado à cor laranja na seleção holandesa.
Independentemente do motivo, tal prática não deveria ser permitida. É uma distorção que confunde e desonra a história de cada clube, ferindo tradições.
Vivemos o oposto de um antigo slogan de um shampoo anticaspa: “Parece, mas não é”. No futebol, o que se vê é “não parece, mas é”.