O lutador e podcaster Renato Moicano classificou Alex “Poatan” Pereira como o “Ayrton Senna do MMA”, embora a comparação com Pelé possa ser mais adequada em relação às suas conquistas e fama internacional. A vitória de Poatan sobre o russo Magomed Ankalaev, ex-campeão da categoria meio-pesado, ocorreu neste sábado (4), em apenas 80 segundos, e com isso, ele se tornou o primeiro brasileiro a vencer duas vezes na mesma categoria e também a ter títulos em duas divisões diferentes do UFC.
Poatan já havia feito história em 2023, ao conquistar o título dos meio-pesados ao vencer Jiri Prochazka, além de já ter sido campeão na categoria dos médios. Embora tenha menos defesas de cinturão e vitórias no UFC do que Anderson Silva, suas conquistas são comparáveis a lendas como José Aldo e Amanda Nunes, esta última destacando-se em termos de domínio em duas categorias e número de defesa.
A vitória teve um significado especial, pois a luta contra Ankalaev era uma revanche. Na luta anterior, Poatan enfrentou problemas físicos. Ao ser questionado se o triunfo foi uma vingança, ele respondeu com uma citação de Seu Madruga: “A vingança nunca é plena, mata a alma e envenena. Não é vingança. Eu estava preparado.”
Atualmente, Poatan é um dos maiores nomes do UFC. A organização, avaliada em US$ 14 bilhões, o considera um ativo valioso, especialmente com uma base de 7,3 milhões de seguidores nas redes sociais, o que o coloca em segundo lugar entre os brasileiros, atrás de Charles “do Bronx” Oliveira. No cenário global, Jon Jones e Ilia Topuria lideram em seguidores.
Originário do ABC Paulista, Poatan trabalhou como borracheiro e segurança de boate antes de se tornar profissional nas lutas. Contrariando algumas informações, ele já competia enquanto lidava com o alcoolismo, inclusive conquistando o título brasileiro nesse período. Sua mudança de trajetória se deu após uma provocação pública de Israel Adesanya, que era campeão do UFC na época e havia se enfrentado com Poatan no Glory.
Reservado e de poucas palavras, Poatan presta homenagens ao povo Pataxó em suas entradas no octógono. Ele sobe ao som pesado de Sepultura, acompanhado de guitarras e cantos indígenas, e se apresenta usando pinturas corporais e cocares autênticos.
O também renomado Max Cavalera, fundador do Sepultura, revelou que seu filho é fã de MMA e que ele passou a admirar Poatan, anunciando que o próximo álbum da banda se chamará “Chama” em homenagem ao lutador.
Poatan ajudou a popularizar a expressão “chama!”, que se tornou um grito de guerra nas redes sociais e nos aeroportos. Sua história de superação, suas raízes periféricas e indígenas, junto à sua linguagem corporal silenciosa, o transformaram em um símbolo de força e resistência.
Seus feitos também merecem destaque: além de ter conquistado dois cinturões no UFC, Poatan foi campeão em duas divisões na Glory, o principal evento de muay thai do mundo. Desde que ingressou no UFC, ele enfrentou exclusivamente campeões ou desafiantes ao título, defendendo seu cinturão três vezes em 2023 — um feito raro na organização.
Diferentemente de atletas como Ayrton Senna, que competiam por equipes bilionárias, Poatan treina em uma academia pequena em Danbury, Connecticut, sob a orientação do ex-campeão brasileiro Glover Teixeira.
No entanto, o contexto em que Poatan constrói sua carreira é diferente. Senna foi um ídolo nacional durante a redemocratização, enquanto Poatan surge em um cenário marcado pela polarização política. O UFC, especialmente nos EUA, se tornou um espaço de apoiadores de Donald Trump, e no Brasil, parte da torcida e dos lutadores está associada ao bolsonarismo, o que gera desinteresse da grande imprensa em cobrir suas lutas.
Na esquerda, são poucos os que demonstram disposição ou liberdade para reconhecer o fenômeno Poatan. Um dos que superaram essa barreira foi o rapper Mano Brown, um fã declarado dos esportes de combate e uma figura influente no debate público do país.
Poatan é esperado no UFC Rio, programado para o próximo sábado, onde Charles “do Bronx” Oliveira será o lutador principal, já tendo sido entrevistado por Brown em seu podcast.
Imaginou? Mano Brown entrevistando Alex “Poatan” Pereira, o ex-borracheiro indígena do ABC que se tornou campeão mundial? Esse é o tipo de encontro que pode ultrapassar as barreiras ideológicas do Brasil.