A partir desta segunda-feira (10), o Brasil é palco de um dos principais eventos globais de combate às mudanças climáticas. A COP 30 acontece na cidade de Belém (Pará), conhecida como uma das portas de entrada da Amazônia.
A abertura desta 30ª edição da Conferência do Clima da ONU foi conduzida pelo presidente Lula, que destacou o ineditismo do evento na Amazônia. A floresta tropical é uma das responsáveis pelo equilíbrio climático global, graças à sua biodiversidade e aos recursos naturais que sustentam os sistemas ambientais do planeta.
“Fazer a COP aqui é um desafio tão grande quanto acabar com a poluição do planeta Terra. Seria mais fácil fazer a COP em uma cidade que não tivesse problema, mas a gente resolveu aceitar fazer a COP em um estado da Amazônia, para provar que, quando se tem disposição e compromisso com a verdade, não há nada impossível. O impossível é não ter coragem para enfrentar desafios”, destacou Lula.
A organização da conferência foi marcada por obstáculos, principalmente pela distância de Belém em relação aos grandes centros do país. Mesmo assim, sua realização na entrada da Amazônia tem forte valor simbólico.
“A COP 30 será a COP da verdade. Na era da desinformação, os obscurantistas rejeitam não só as evidências da ciência, mas também os progressos do multilateralismo. Eles controlam algoritmos, semeiam o ódio e espalham o medo. Atacam as instituições, a ciência e as universidades. É momento de impor uma nova derrota aos negacionistas”, prosseguiu.
No total, são esperadas cerca de 50 mil pessoas nas diversas atividades da COP, segundo estimativas do governo federal. O objetivo é que o Brasil reúna líderes políticos e empresariais para viabilizar novos financiamentos contra as mudanças climáticas.
Brasil como protagonista
Como sede do evento, o Brasil chega à COP 30 com grandes ambições, a começar pelo seu papel de protagonista na luta contra as mudanças climáticas. Por ser dono da maior parte da Amazônia, o país quer incentivar que outras nações — especialmente do Norte global, mais poluidoras — financiem parte da preservação ambiental.
O governo Lula pretende encerrar o evento com a assinatura do Compromisso de Belém pelos Combustíveis Sustentáveis, apelidado de Belém 4X. O acordo prevê quadruplicar o uso de combustíveis de baixo impacto ambiental até 2035.
A iniciativa é patrocinada por Itália, Índia e Japão e já foi assinada por mais de 20 países. As nações entendem que o uso de alternativas como o hidrogênio verde pode suprir parte da demanda global de energia, ao lado dos automóveis elétricos.
“Países como o Brasil têm todas as condições de dar uma contribuição para além de si mesmos, porque temos fontes renováveis e diversificadas de energia. É possível fazer um mutirão para que a gente aumente, na matriz energética global, as energias renováveis. Elas são a chave para diminuir a nossa dependência dos combustíveis fósseis”, destacou a ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva.
Redução de 1,5 grau
A COP 30 acontece no ano em que se comemora o décimo aniversário do Acordo de Paris, firmado em 2015. O documento estabeleceu o compromisso global de limitar o aumento da temperatura do planeta a 1,5 °C, considerado o limite para evitar consequências desastrosas à população mundial.
“As Nações Unidas não vão desistir da meta de 1,5 grau. Muitas pessoas estão perdendo a esperança de que seus líderes ajam. Precisamos nos mover mais rápido — e nos mover juntos. Esta COP deve iniciar uma década de aceleração e entrega”, comentou o secretário-geral da ONU, António Guterres.
Estados Unidos ausente
Diferentemente dos últimos anos, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, não pretende comparecer à COP 30. O país também não deve enviar representantes de alto escalão para as discussões.
Durante a cerimônia de abertura, sem citar nomes, Lula criticou a ausência de algumas nações, entre elas os EUA e a Argentina. O presidente brasileiro afirmou que os líderes globais deveriam priorizar investimentos ambientais em vez de gastos com guerras.
“Se os homens que fazem guerra estivessem aqui nesta COP, perceberiam que é muito mais barato colocar US$ 1,3 trilhão para acabar com o problema climático do que gastar US$ 2,7 trilhões em guerras, como fizeram no ano passado”, afirmou Lula.
Tornado no Paraná no centro do debate
A COP brasileira ocorre poucos dias depois de um evento climático devastador no Brasil. Na última sexta-feira (7), um tornado atingiu Rio Bonito do Iguaçu (PR) e arredores, matando seis pessoas e deixando 750 feridas.
Segundo dados oficiais, esse foi um dos fenômenos meteorológicos mais intensos já registrados no estado do Sul. Dada a gravidade e a coincidência com o início da COP, o caso foi um dos temas centrais do primeiro dia da conferência.
“A urgência é um elemento adicional que está tão presente — e somos lembrados disso, com grande tristeza, por tragédias recentes como as do Paraná, das Filipinas e da Jamaica. Temos uma responsabilidade imensa”, afirmou o presidente da COP 30, embaixador André Corrêa do Lago.
“Esta, portanto, é uma COP de implementação. Espero que seja lembrada também como uma COP de adaptação, que avance na integração do clima com a economia, as atividades produtivas e a geração de emprego — e, mais do que tudo, que ouça a ciência”, completou.
