O Nubank (ROXO34) parece estar enfrentando mais resistência do que o previsto para implementar um novo modelo de trabalho híbrido.
Os funcionários do banco digital expressaram insatisfação com a proposta em uma reunião com o CEO, David Vélez, e publicaram uma carta-manifesto contra a mudança.
O manifesto solicita a manutenção do home office, além da abertura de negociações com a empresa e o sindicato dos bancários. Também exige a recontratação dos 14 funcionários demitidos que se opuseram ao novo modelo de trabalho híbrido.
O Nubank demitiu 12 pessoas por críticas excessivas à proposta e comportamentos considerados desrespeitosos na reunião. Além disso, dois funcionários foram acusados de tentar sabotar os sistemas internos.
Os trabalhadores afirmam que os demitidos “manifestaram seu legítimo descontentamento frente a uma decisão que impôs a todos uma drástica mudança em sua realidade de trabalho sem qualquer negociação prévia”.
Trabalho híbrido
O Nubank anunciou a adoção de um modelo de trabalho híbrido, no qual os funcionários precisarão estar nos escritórios dois dias por semana, a partir de julho de 2026.
No entanto, muitos colaboradores optaram pelo Nubank devido à flexibilidade do home office. Além disso, muitos deles residem em cidades onde não há escritório da empresa e, por isso, terão que mudar de local para se adequar ao novo modelo de trabalho.
“É inaceitável que tamanha mudança seja imposta sem diálogo e sem apresentar qualquer dado, evidência ou justificativa objetiva”, reclamam.
O manifesto ainda afirma que “o trabalho remoto não reduz a produtividade” e destaca que o Nubank expandiu sua base de clientes, seu lucro e seu valor de mercado nos últimos anos com base nesse modelo de trabalho.
O CEO do Nubank, por sua vez, declarou que os benefícios do home office “eram muito óbvios, mas os seus custos eram invisíveis”.
Segundo Vélez, a mudança para os escritórios visa acelerar a inovação e fortalecer a excelência operacional, além de reforçar a cultura da empresa por meio de uma convivência mais próxima e encontros criativos.
Após a publicação do manifesto dos trabalhadores, o Nubank afirmou que “mantém um diálogo aberto e transparente com todas as entidades representativas apropriadas”.
Leia o manifesto dos funcionários do Nubank:
“Carta aberta dos trabalhadores organizados do Nubank ao CEO e M-Team
Os trabalhadores organizados de todas as entidades legais do Nubank (Nu Asset, Nu Commerce, Nu Crypto, Nu Financeira, Nu Invest, Nu Pagamentos, Nu Pay, Nu Signals, Nu Tech e Olivia) e de todos os países onde atuam (Braisl, Colômbia e México) vêm por meio desta carta manifestar seu repúdio:
- ao fim unilateral do modelo remoto e à imposição do trabalho presencial a partir de 2026;
- e às advertências e demissões retaliatórias de funcionários do Nubank que manifestaram seu legítimo descontentamento frente a uma decisão que impôs a todos uma drástica mudança em sua realidade de trabalho sem qualquer negociação prévia.
Em total contraste com o discurso de valorização de feedbacks, diversidade e autonomia, o Nubank reagiu com punição aos trabalhadores e trabalhadoras que se opuseram ao novo regime de trabalho. Oficialmente, 14 demissões por justa causa, um número inédito e alarmante, além de diversas advertências diante de reivindicações legítimas, a gestão escolheu a punição em vez do diálogo com os trabalhadores.
Em poucos anos, o Nubank cresceu de 25 milhões para mais de 100 milhões de clientes, acumulando mais de R$ 20 bilhões de lucro líquido entre 2024 e 2025, consolidando-se como uma das maiores histórias globais de sucesso e como o maior banco da América Latina.
Esse resultado é fruto do trabalho de equipes remotas, diversas e comprometidas, que entregaram crescimento, inovação e eficiência à distância em um modelo que já contempla períodos presenciais a cada três meses e promove a cultura e colaboração. Essas equipes têm orgulho da empresa que construíram e dos resultados que entregaram.
Por isso, é inaceitável que tamanha mudança seja imposta sem diálogo e sem apresentar qualquer dado concreto, desconsiderando a opinião de mais de 90% da empresa, conforme relatado pela Chief People Officer. O que se vê é uma decisão arbitrária e insensível, que ameaça nosso bem-estar e confiança, além de impactar nossas vidas, famílias e estabilidade financeira.
Não vamos entrar no fato de que o trabalho remoto não reduz a produtividade. As evidências são claras e o próprio Nubank reconheceu isso. Vale mencionar que políticas de retorno ao escritório reduzem a satisfação dos trabalhadores e provocam a saída em massa de profissionais qualificados, sobrecarregando os que ficam. Cuidadores familiares, especialmente mulheres, e pessoas com deficiência são ainda mais impactados por essas mudanças, prejudicando seu desempenho profissional e qualidade de vida. Além disso, realocar trabalhadores para grandes centros como São Paulo e Rio de Janeiro implica na perda de renda e diminuição da qualidade de vida.
Portanto, com nossos direitos constitucionais de manifestação e livre organização, exigimos:
- A reversão do retorno ao escritório, com abertura de negociação entre a empresa, seus trabalhadores e a representação sindical.
- Fim da punição e recontratação imediata de todos os demitidos que expressaram sua indignação por tais impactos em nossas vidas e trabalho.
Convocamos todos os funcionários do Nubank a se unirem nessa luta.”
Leia também a carta do CEO do Nubank:
“Prezados Nubankers,
Nos últimos cinco anos, o Nubank prosperou em um ambiente prioritariamente remoto. Juntos, construímos uma empresa geracional, alcançando mais de 120 milhões de clientes em toda a América Latina. Esta é uma conquista extraordinária, e cada um de vocês desempenhou um papel para torná-la possível.
No entanto, como sempre dizemos, ainda é o Dia 1. A próxima fase de crescimento exigirá aprimoramento em aspectos-chave do nosso ambiente de trabalho. Hoje quero compartilhar uma decisão importante nessa direção: faremos a transição do nosso modelo prioritariamente remoto para um modelo híbrido. A partir de 1º de julho de 2026, planejamos trazer os Nubankers de volta ao trabalho em equipe presencial, começando com 2 dias por semana e, mais adiante, 3 dias por semana em 1º de janeiro de 2027.
Quero reconhecer de antemão: esta foi uma decisão difícil. Sabemos que será bem recebida por muitos. Para outros, gerará conturbação — especialmente para aqueles que moram longe de nossos escritórios ou que ingressaram no Nubank pela flexibilidade do trabalho remoto. Entendemos o peso desta mudança e não a tomamos levianamente. Nosso objetivo é que cada Nubanker permaneça a bordo nesta nova jornada.
Portanto, elaboramos um plano que permite acomodação e suporte. Estabelecemos intencionalmente um período de transição de 8 meses. Estamos construindo novos escritórios para facilitar o deslocamento dos colaboradores e forneceremos suporte a Nubankers elegíveis com assistência para realocação.
Nossa Visão
Antes de entrar nos detalhes, quero expor claramente a lógica por trás desta decisão. Ao longo dos últimos anos, mencionei que me preocupo com o nosso ambiente remoto, pois seus benefícios são muito evidentes, mas os custos, invisíveis. Estudamos pesquisas disponíveis, discutimos nossa experiência e comparamos com empresas inovadoras. Concluímos que um modelo híbrido nos permitirá aproveitar o melhor dos dois mundos e é essencial para nossas ambições.
- Cultura: Fortalecendo nosso senso de propósito e pertencimento.
A cultura não é um documento, mas um sistema vivo de hábitos e confiança construído por meio da conexão humana diária. No ambiente remoto, essa energia se extingue. Vídeo chamadas são limitadas e as conversas tornam-se transacionais. O trabalho presencial aumenta o pertencimento e permite que líderes sirvam como modelo para nossos valores. A cultura é o nosso diferencial; estar juntos a fortalece.
Acelerar a inovação através de encontros criativos. Inovações no Nubank surgiram da colaboração entre pessoas presencialmente. O trabalho necessário até hoje foi feito em pequenas salas, com pessoas comprometidas. Pesquisas demonstram que oportunidades presenciais geram mais e melhores ideias. A criatividade não floresce em chamadas agendadas; ela surge de interações não planejadas.
- Excelência Operacional: Velocidade, Foco e Desempenho Coletivo
A comunicação encolhe drasticamente em configurações remotas. Sinais não verbais desaparecem e mal-entendidos se multiplicam. Nos ambientes presenciais, o alinhamento acontece naturalmente, problemas são resolvidos rapidamente e o feedback é imediato. O trabalho remoto prioriza a conveniência individual, mas pode afetar a produtividade coletiva. O retorno ao escritório recalibra a urgência e a priorização.
Nossa ambição exige um compromisso com esses fatores. Não estamos apenas construindo um banco digital; queremos redefinir serviços financeiros globalmente. Visamos que todos trabalhem juntos em espaços envolventes, promovendo alinhamentos, interações e crescimento.
Como operaremos o novo modelo
Expandindo nossos locais de trabalho e investindo em infraestrutura de classe mundial. Melhoraremos nossos escritórios em São Paulo, Cidade do México e Bogotá, além de novos espaços em Campinas, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, Buenos Aires, Washington D.C., Miami e Palo Alto.
- Fase 1 – Transição no 1º Semestre de 2026
A partir de janeiro de 2026, o modelo Nu Way of Working (NWW) seguirá como requisito mínimo. O primeiro semestre será de transição e adaptação para aqueles que precisam ajustar suas rotinas. Os gerentes devem incentivar o comparecimento presencial conforme necessário para desenvolver e executar as metas acordadas. Reservas voluntárias serão bem-vindas.
- Fase 2 – Modelo Híbrido no 2º Semestre de 2026
A partir de julho de 2026, cerca de 70% das equipes trabalharão presencialmente em um ou mais escritórios designados por um mínimo de dois dias por semana. Os dias e escritórios serão definidos com base em unidades de negócios e interação.
- Fase 3 – Aumento Gradual
A partir de janeiro de 2027, planejamos aumentar os requisitos presenciais para um mínimo de três dias designados por semana, conforme avaliações do modelo de negócios.
Exceções e Suporte
- Exceções Fixas: Nubankers em níveis M2 / IC6 e funções específicas permanecerão em modelo remoto devido à natureza de seu trabalho.
- Exceções Ad hoc: Nubankers podem solicitar uma exceção ou extensão pessoal para a implementação de julho, com base nas Diretrizes de Exceções. Serão consideradas necessidades específicas do negócio e situações individuais.
- Auxílio-Realocação: Nubankers elegíveis podem se inscrever para um programa de suporte à mobilidade.
Para finalizar, reconhecemos que muitos terão reações diferentes. Esta mudança pode não ser conveniente para todos, mas ela é necessária. Pedimos que todos façam parte desta nova fase do Nubank. Nossa ambição é nos tornarmos o maior e mais respeitado banco digital do mundo, o que requer excelência na execução, inovação e colaboração.
Agradeço sua abertura e comprometimento nessa mudança que gerenciaremos juntos.
Com convicção, David”






