Com os preços abaixo do custo de produção para boa parte do setor, a companhia está redirecionando sua produção para o etanol, que atualmente oferece remuneração mais atrativa.
Durante teleconferência de resultados nesta terça-feira (11), o CFO e diretor de Relações com Investidores da companhia, Felipe Vicchiato, afirmou que os preços futuros do açúcar bruto na Bolsa de Nova York — na casa dos US$ 0,14/lb, próximos das mínimas de cinco anos — tornaram inviável a continuidade da estratégia de priorização do adoçante.
Segundo o executivo, o equivalente do preço do etanol está entre US$ 0,15 e US$ 0,155/lb, tornando a mudança de mix não apenas mais lucrativa, mas também mais eficiente em termos de capital de giro, já que a exportação de açúcar exige prazos maiores para a recuperação de créditos tributários.
Mudança operacional já está em curso
Desde setembro, as unidades flex da companhia estão 100% dedicadas à produção de etanol, uma decisão que deverá impactar de forma significativa a composição da safra 2025/26.
A nova estimativa prevê uma produção de 1 bilhão a 1,1 bilhão de litros de etanol, acima dos 914 milhões de litros estimados para o ciclo atual.
Em contrapartida, a produção de açúcar será reduzida para entre 1 milhão e 1,3 milhão de toneladas, contra 1,42 milhão da safra vigente.
A redução acompanha a queda de 2,7% na moagem de cana, agora estimada em 22 milhões de toneladas, reflexo de adversidades climáticas em Goiás e regiões do interior de São Paulo.
Vicchiato antecipou que a safra atual será encerrada mais cedo nas usinas paulistas — em 20 de novembro — e a próxima temporada, com início entre março e abril, também deverá priorizar etanol. “Se o açúcar continuar nesses níveis, não há racional econômico para iniciar a safra com foco açucareiro”, afirmou.
Pressão cambial e projeções difíceis
O CFO também alertou para o impacto negativo da valorização do real frente ao dólar, que, combinada com o colapso no preço do açúcar, prejudica as fixações antecipadas para exportação. Ele indicou que a empresa tomará medidas para ajuste de custos, mas que o cenário exige cautela.
Apesar do aperto financeiro previsto para o ciclo 2026, a companhia não pretende interromper os investimentos estratégicos, especialmente o projeto da planta de etanol de milho, que segue no cronograma.
Segundo Vicchiato, o retorno projetado é robusto e deverá contribuir para a competitividade da empresa em 2027. “Vai ser um ano duro, mas a São Martinho passa. E estaremos mais fortes em 2027”, concluiu o executivo.
Setor sob pressão
A sinalização da São Martinho é um reflexo de um movimento mais amplo que pode atingir boa parte do setor sucroalcooleiro, especialmente as usinas com estrutura de capital mais frágil.






