
O balanço reúne sinais importantes dos dois lados — avanços discretos na margem financeira e pressões persistentes no custo do crédito — desenhando um cenário em que o mercado tenta entender qual força será dominante nos próximos trimestres.
BBAS3: inadimplência cresce e carteira desacelera
Os números do Banco do Brasil (BBAS3) reforçam que o desafio da inadimplência continua longe de um ponto de estabilização. O índice de atrasos acima de 90 dias subiu para 4,93%, aumento de 72 pontos-base em relação a junho. No agronegócio, tradicional motor de crescimento do banco, a inadimplência alcançou 5,34%, pressionada por quebras de safra, preços mais baixos e avanço dos pedidos de recuperação judicial.
Na carteira de pessoas físicas, o indicador chegou a 6,01%, refletindo especialmente operações renegociadas e cartão de crédito. O segmento de empresas foi a exceção positiva, encerrando o trimestre em 4,06%, com leve melhora na qualidade dos ativos.
A carteira de crédito expandida totalizou R$ 1,28 trilhão, queda de 1,2% no trimestre, embora tenha crescido 7,5% em 12 meses. Por segmento:
- Pessoas Físicas: R$ 350,5 bi (+7,9% em 12 meses);
- Pessoas Jurídicas: R$ 453,0 bi (+10,4% em 12 meses, –3,2% no trimestre);
- Agronegócio: R$ 398,8 bi (+3,2% em 12 meses).
Apesar da retração trimestral, o BBAS3 ampliou desembolsos com garantias públicas — como Pronampe e PEAC-FGI — somando R$ 5,8 bilhões, mais de 28% acima do trimestre anterior.
Desempenho do Trimestre
O Banco do Brasil (BBAS3) registrou lucro líquido ajustado de R$ 3,8 bilhões no 3T25, praticamente estável em relação ao 2T25, mas 60,2% menor na comparação anual. No acumulado de janeiro a setembro, o lucro somou R$ 14,9 bilhões, queda de 47,2% em relação ao mesmo período de 2024.
A Margem Financeira Bruta atingiu R$ 26,4 bilhões, alta de 5,1% no trimestre, impulsionada pelo crescimento de 4,4% nas receitas de crédito e de 24,7% na tesouraria. O movimento, porém, foi parcialmente compensado pelo aumento das despesas de captação — reflexo da alta da TMS e da TR.
O custo do crédito permaneceu como principal fator de pressão. No trimestre, chegou a R$ 17,9 bilhões, avanço de 12,7% sobre o período anterior e de 66,4% no acumulado do ano. O banco atribui o movimento à deterioração da inadimplência, com destaque para o agronegócio e casos pontuais entre grandes empresas.
As despesas administrativas fecharam em R$ 9,8 bilhões, aumento de 1,4% ante o segundo trimestre, impulsionadas por despesas de pessoal e investimentos contínuos em tecnologia, inteligência artificial e cibersegurança.
Os sinais que o mercado observa em BBAS3
O BBAS3 encerrou o trimestre com Índice de Capital Principal de 11,16% e Índice de Basileia de 14,81%, níveis considerados confortáveis. Ainda assim, o ambiente de crédito mais arriscado — especialmente no agro — e o custo do crédito elevado continuam a ditar o humor dos investidores.
Esse movimento se reflete no comportamento da ação: BBAS3 terminou setembro cotada a R$ 22,09, queda de 18,7% em 12 meses.
O banco também reforçou que parte das mudanças nos números resulta da adoção da Resolução CMN 4.966/21, que alterou a forma de contabilizar perdas esperadas e juros. Isso impacta a comparabilidade com 2024, especialmente na margem financeira, despesas de crédito e receitas de serviços.
Mesmo com esses ajustes estruturais, o recado do trimestre permanece claro: o BBAS3 virou — mas virou pouco. E, enquanto o crédito não mostrar sinais consistentes de acomodação, especialmente no agronegócio, o cenário deve continuar marcado por cautela.






