A Portuguesa de Desportos disputou sua última partida no dia 9 de agosto de 2025, sendo eliminada da Série C do Campeonato Brasileiro. O Paraná Clube teve um desempenho ainda pior, encerrando sua temporada em fevereiro, após o término do campeonato estadual. Essa é a realidade de centenas de clubes de futebol no Brasil, pois o jogo é a sua principal atividade e sem ele não conseguem manter a estrutura de gestão e elenco.
Enquanto isso, clubes que competem nas principais ligas do Brasil enfrentam uma intensa maratona de jogos, sem paralelo em nenhum outro lugar do mundo. Nas ligas europeias, as equipes que mais jogam em uma temporada não chegam a completar 60 partidas. No Brasil, essa é a média, com alguns times superando os 80 jogos. Essa quantidade excessiva compromete a qualidade do esporte, dificultando a recuperação dos atletas e aumentando o risco de lesões. Ademais, manter os estádios lotados torna-se mais difícil, já que os torcedores precisam encaixar, no orçamento, pelo menos quatro partidas por mês.
A CBF (Confederação Brasileira de Futebol) faz bem ao considerar essas condições na apresentação do novo calendário para os próximos quatro anos. A alta carga de jogos dos clubes maiores está relacionada, sobretudo, aos torneios estaduais, que não existem em outros países, sobrecarregando as competições nacionais. Entre as novas medidas anunciadas, os campeonatos locais terão um máximo de 11 datas (cerca de 30% a menos que o atual Paulistão), com final previsto para o início de março.
Para enfrentar o problema do calendário reduzido dos clubes menores, a CBF optou por aumentar o número de equipes nas Séries C e D em quase 50%, permitindo que mais clubes acessem as divisões nacionais. Além disso, para compensar a redução dos estaduais, a Copa do Brasil incluirá mais times e os torneios regionais, antes limitados ao Nordeste, serão reativados.
No entanto, alguns pontos ainda precisam de atenção. Atualmente, existem campeonatos estaduais que oferecem cotas financeiras muito superiores aos torneios nacionais, cujos custos operacionais são naturalmente maiores devido aos deslocamentos que exigem.
Mesmo com o aumento de 33% no número de clubes nesses torneios, ainda haverá mais de 700 equipes fora do cenário nacional. Isso sem considerar o desafio do futebol feminino, cujo Campeonato Brasileiro tem duração inferior a seis meses e a maioria das equipes joga apenas metade das partidas dos times masculinos.
A transição do Campeonato Brasileiro para o formato de pontos corridos em 2003 foi um avanço significativo, proporcionando maior previsibilidade e prolongando o calendário para os clubes de elite. Porém, a continuidade dos estaduais e o crescimento das competições continentais e mundiais geraram a necessidade urgente de uma nova revisão no modelo, que também deve abordar a falta de um calendário anual para os clubes menores.
Quase 25 anos depois, um novo passo é dado em direção a uma gestão mais racional do futebol, mas ainda restam questões importantes relacionadas à viabilidade econômica.