Há cerca de 15 anos, o minimalismo era a tendência na indústria de tênis. Marcas, inspiradas no livro “Nascido para Correr”, de Christopher McDougall, buscavam trocar amortecimento por leveza e flexibilidade.
No livro, McDougall apresenta a corrida natural dos tarahumaras, habitantes da fronteira do México com os Estados Unidos, que usam uma sandália rústica para correr longas distâncias, servindo como transporte.
O autor sugere que as lesões relacionadas à corrida provêm do excessivo amortecimento dos tênis, que enfraquece a musculatura do pé.
McDougall conclui que aqueles que correm com menos proteção nos pés tendem a se machucar menos.
O futuro do branding pode, talvez, recordar esse período, pois produtos que se aproximavam do calçado essencial, como as huaraches dos tarahumaras, possuíam valor agregado.
Não aprecio solados altos e é quase impossível encontrar tênis com solado abaixo de dois centímetros. Meu ideal é o Nike Free original, que se parecia com uma meia; nunca usei o já ultrapassado Five Fingers, uma verdadeira luva para os pés.
Ainda que os tênis de corrida sejam leves, não gosto dos modelos pesados que a indústria oferece. Neste domingo (28), decidi radicalizar e correr descalço, algo que fiz raramente antes: apenas 20 minutos na trilha do Cepeusp e, na adolescência, alguns quilômetros em uma meia maratona, deixando para trás meu tênis Daytona apertado.
O cenário agora era diferente: 10 km pela aspereza da Marginal Pinheiros, em São Paulo, onde acontecia uma prova da marca de vestuário Plié.
A superfície, devido à alta carga de veículos, era muito áspera, algo que não esperava. Meus pés só encontravam alívio em trechos menores pintados.
Sabia que o sacrifício não duraria se mantivesse o mesmo ritmo que costumo aplicar em provas de 10 km ou 15 km. Era exatamente para isso que corria na Marginal.
Não descreverei o momento em que minha meia esquerda ganhou um furo e meu pé direito formou uma bolha; vou direto ao meu pace final: 4min37.
Comparo esse ritmo com duas corridas recentes em que usei tênis com placa de carbono: na maratona de revezamento Fila, meu melhor pace foi 4min40 para cada um dos dois trechos de 10,5 km; e, na meia maratona de Florianópolis, em maio, quando obtive um ótimo tempo: 4min33.
Tênis com placa são comercializados como a solução mágica para corredores amadores. Eles oferecem o que a indústria chama de responsividade, proporcionando mais força a cada impacto do pé no solo.
Não recomendo correr descalço, mas, caso a intenção seja economizar algum dinheiro sem grande perda de velocidade, este domingo provou que as sandálias tarahumaras, ou algo equivalente, são suficientes.