Nesta sexta-feira (3), o Brasil registrou 48 casos em investigação por intoxicação relacionada ao metanol, substância que pode ser fatal, em diversas bebidas alcoólicas adulteradas.
A maioria dos casos identificados pelo Ministério da Saúde ocorreu na cidade de São Paulo, com algumas vítimas também em Pernambuco e Brasília. Apenas uma morte foi contabilizada, segundo o balanço do ministério.
O metanol é um tipo de álcool não apropriado para o consumo humano, utilizado principalmente na indústria química. Sua ingestão pode causar sequelas irreversíveis e até a morte.
As circunstâncias exatas de como o metanol foi introduzido nas bebidas ainda não estão claras. Uma das hipóteses é que fábricas clandestinas tenham usado a substância para limpar garrafas antes de encher com novas bebidas.
Equipes policiais de diferentes estados visitaram bares onde as vítimas consumiram as bebidas contaminadas para investigar os frascos. Após essa fase, inspecionaram distribuidoras e, por fim, localizaram fábricas que operam sem autorização dos órgãos competentes.
Mais de mil garrafas já foram recolhidas pelas equipes de investigação, sendo algumas enviadas ao Instituto de Criminalística de São Paulo para análise. Uma série de testes pode esclarecer as incertezas que cercam o setor de bares e restaurantes neste momento.
“Os laudos serão enviados à Polícia Civil, que continuará as investigações detalhadas para elucidar os casos de falsificação de bebidas”, afirmou a Secretaria da Segurança Pública em comunicado.
Não está claro qual será o impacto desses casos nas ações das empresas do setor de bebidas; no entanto, algumas delas já observam a queda de seus papéis na bolsa de valores. A Ambev (ABEV3), por exemplo, perdeu cerca de 5% em valor de mercado ao longo da semana, conforme informações da B3.
Apesar de não haver ligação entre essas empresas e os casos registrados, suas ações são afetadas pelo declínio no consumo de bebidas alcoólicas. Vários órgãos de saúde alertaram o público sobre os casos de metanol e aconselharam cautela na ingestão de bebidas neste período.
“É fundamental verificar atentamente os rótulos das bebidas adquiridas, que devem estar em bom estado. Lacres e tampas não podem estar violados. Os comerciantes devem evitar comprar bebidas que não tenham registro no Ministério da Agricultura e Pecuária ou que estejam sem rótulo, lacre e selo fiscal (selo do IPI)”, orientou a Secretaria de Saúde do Rio de Janeiro.
Cerveja e vinho têm menor risco?
Especialistas consultados pela reportagem da Folha de SP indicam que vinhos e cervejas apresentam menor risco de contaminação por metanol devido ao seu processo de produção e fermentação.
Além disso, todos os casos em investigação até o momento estão relacionados a bebidas destiladas, como vodka e gin. Contudo, os especialistas advertem que não é seguro consumir qualquer tipo de bebida, uma vez que não se sabe se houve contaminação intencional.
“Minha hipótese é que isso se refere à produção ilegal de destilados, e não a uma contaminação intencional para causar mortes”, avalia Zila Van Der Meer Sanchez, chefe do Departamento de Medicina Preventiva da Escola Paulista de Medicina (EPM), Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). “Como não há clareza sobre a situação, não considero seguro consumir nenhum tipo de bebida neste momento”, completa.