O BTG Pactual prevê que o Banco Central começará um ciclo de cortes na taxa Selic em janeiro de 2026, com possibilidade de reduções de até 300 pontos-base ao longo do ano.
Essa mudança é influenciada pela desaceleração da atividade econômica, caracterizada por crédito mais restrito, famílias endividadas e diminuição do consumo. Embora tenha havido uma piora recente no cenário inflacionário, a avaliação é de que a inflação segue sob controle.
No cenário internacional, o Fed (Federal Reserve) também demonstra uma postura mais dovish, permitindo que o Brasil ajuste sua política monetária sem enfrentar pressões externas significativas.
Se a mudança na trajetória da Selic for confirmada, isso poderá redesenhar o panorama da B3 (B3SA3), beneficiando alguns setores mais do que outros.
Por que a Selic importa tanto para as ações
A Selic é a taxa básica de juros da economia brasileira, servindo como referência para o custo do crédito e a remuneração de aplicações financeiras. Com a queda da Selic:
- Crédito torna-se mais barato, incentivando consumo e investimentos;
- Empresas endividadas diminuem despesas financeiras e aumentam margens de lucro;
- A renda fixa perde atratividade, fazendo com que investidores se dirijam para ativos de maior risco, como ações;
- O aumento nos fluxos internacionais ocorre, uma vez que juros menores costumam impulsionar a valorização da bolsa em períodos de maior liquidez global.
Historicamente, o Ibovespa tende a apresentar significativas valorizações em ciclos de afrouxamento monetário. Em 2016, por exemplo, o índice cresceu mais de 70%, excluindo o desempenho das ações da Petrobras (PETR4) e Vale (VALE3), durante a queda da Selic.
Setores que podem ganhar mais com juros em queda
Mais consumo, mais vendas
O setor de varejo é o mais sensível à diminuição da Selic. Com financiamento mais fácil, os consumidores aumentam seu poder de compra, favorecendo especialmente empresas de bens duráveis.
Nesse contexto, Magazine Luiza (MGLU3), Lojas Renner (LREN3) e Natura (NTCO3) são algumas das principais beneficiadas.
Imóveis mais acessíveis
As construtoras tendem a se destacar em cenários de juros baixos. A redução nas taxas de financiamento imobiliário geralmente aumenta a demanda, beneficiando empresas como Cyrela (CYRE3), Eztec (EZTC3) e MRV (MRVE3).
Em 2016, algumas dessas empresas registraram valorizações superiores a 200%.
Shoppings com valorização dupla
As administradoras de shoppings se beneficiam em duas frentes: maior consumo nos estabelecimentos e valorização de seus ativos com a redução das taxas reais.
Nesse setor, Multiplan (MULT3), Iguatemi (IGTI11) e Aliansce Sonae (ALSO3) estão entre as principais apostas.
Logística e locadoras
Empresas com alta necessidade de capital, como locadoras de veículos e companhias de logística, são diretamente impactadas pelas taxas de juros.
Com a Selic em queda, essas empresas reduzem despesas financeiras e elevam suas margens. Exemplos incluem a Movida (MOVI3), Vamos (VAMO3) e JSL (JSLG3).
Utilities
No setor de utilities, as empresas de energia e saneamento têm contratos atrelados à inflação e previsibilidade de receitas.
Com juros mais baixos, esse fluxo de caixa futuro torna-se mais atrativo. Equatorial (EQTL3) e Sabesp (SBSP3) estão entre as possíveis beneficiadas desse ciclo.
Quem perde com a Selic em queda
O impacto da queda da Selic não é positivo para todos. Bancos e seguradoras normalmente se beneficiam mais em períodos de juros elevados, pois as margens financeiras e receitas de aplicações tendem a diminuir quando a Selic cai.
Além disso, empresas com forte caixa líquido, que atualmente se beneficiam de receitas financeiras altas, podem perder essa vantagem.
Destacam-se nesse grupo companhias como TOTVS (TOTS3), Locaweb (LWSA3), Intelbras (INTB3) e grandes como Ambev (ABEV3), WEG (WEGE3) e a própria B3 (B3SA3).
E o Ibovespa?
Espera-se que a queda da Selic crie oportunidades para setores domésticos mais alavancados e dependentes de crédito. Historicamente, os cortes de juros estão associados à valorização do Ibovespa, embora o efeito seja mais acentuado em certos segmentos.
O desempenho do índice também será influenciado por fatores externos, como o apetite de investidores estrangeiros, a liquidez global e o progresso das reformas fiscais e tributárias no Brasil.
Se o Banco Central realmente iniciar um ciclo de flexibilização em 2026, setores como varejo, construção civil, shoppings, logística e utilities devem ser os principais destaques da B3.
Em contrapartida, bancos, seguradoras e empresas com forte caixa líquido podem perder espaço.