O mercado brasileiro de capitais experimentou, em setembro de 2025, um significativo aumento no volume de ações alugadas, conhecido como BTC (Banco de Títulos da CBLC).
Esse mecanismo, que atua como um indicador do mercado à vista, revela onde estão concentradas as maiores apostas em queda e quais setores estão sob pressão vendedora.
Conforme dados da Elos Ayta, os números se aproximaram de recordes históricos, com diversos papéis apresentando mais de 90% do estoque alugado em relação ao pico dos últimos 12 meses, refletindo uma percepção de risco elevada em setores específicos.
Como funciona o BTC
O aluguel de ações opera de maneira simples:
- Um investidor que possui ações pode cedê-las temporariamente a outro investidor (o tomador);
- O tomador, por sua vez, vende essas ações no mercado à vista, acreditando que poderá comprá-las de volta a um preço mais baixo no futuro;
- A diferença entre o preço de venda e o preço de recompra é o lucro da operação.
Em troca, o cedente recebe uma taxa de aluguel, que varia de acordo com a oferta e a demanda. Quanto maior o interesse em alugar um papel, maior tende a ser essa taxa.
Na prática, volumes altos no BTC podem indicar dois cenários:
- Apostas diretas em queda;
- Proteção (hedge) para carteiras que estão expostas ao ativo ou setor.
Bancos lideram apostas em queda
O levantamento da Elos Ayta indica que o setor bancário é o foco das atenções.
Dos 20 papéis mais alugados da B3, quatro pertencem a bancos.
Esse movimento aponta não apenas uma pressão vendedora significativa sobre o setor, mas também a percepção de que os bancos podem enfrentar desafios adicionais no cenário econômico atual.
Outros setores sob pressão
Além dos bancos, outros segmentos importantes da economia também estão representados no ranking.
No setor de petróleo e gás, Petrobras (PETR4) e PetroRio (PRIO3) estão entre os papéis mais alugados, enquanto no setor de energia elétrica, destacam-se Eletrobras (ELET3) e Equatorial (EQTL3).
No setor de consumo e indústria, empresas como Ambev (ABEV3), Marfrig (MRFG3), Embraer (EMBR3) e Rede D’Or (RDOR3) também têm registrado alta demanda.
O caso da Marfrig chama atenção: 36,92% de suas ações disponíveis no mercado estão alugadas, a maior proporção entre as empresas analisadas.
Além disso, a taxa de aluguel atingiu 29,2% ao ano, resultado da alta demanda e da baixa oferta de papéis.
Números que chamam atenção
O estoque consolidado das 20 ações mais alugadas totalizou R$ 80,7 bilhões, correspondente a 74,3% do recorde dos últimos 12 meses. O mercado em geral movimentou R$ 135,8 bilhões, cerca de 28,5% a menos do que o pico histórico.
Em oito companhias, o nível de aluguel superou 90% do recorde anual, evidenciando uma pressão atípica.
Esses dados reforçam a ideia de que o mercado de BTC pode antecipar movimentos relevantes no mercado à vista, já que volumes elevados costumam preceder fases de maior volatilidade.
O que significa para o investidor
Analisar o mercado de aluguel de ações não é apenas uma questão técnica, mas uma visão do sentimento dos investidores institucionais.
Altos volumes alugados indicam uma maior concentração de apostas na queda, enquanto taxas elevadas sinalizam escassez de papéis disponíveis. A concentração em setores específicos, como bancos ou commodities, pode indicar riscos e possíveis focos de instabilidade.
Para investidores de longo prazo, esse movimento exige atenção aumentada, pois em momentos de estresse, a pressão sobre papéis muito alugados pode desencadear episódios de short squeeze, quando aqueles que apostaram na queda precisam recomprar ações rapidamente, provocando uma disparada nos preços.
O aumento do volume de aluguel de ações em setembro de 2025 gerou um alerta no mercado brasileiro. Embora a prática seja comum, os atuais níveis próximos aos recordes históricos indicam maior cautela e otimismo contido em setores como bancos e petróleo.