Promessas de retorno acima da média atraem investidores, especialmente aqueles que buscam aplicar em um CDB pagando 120% do CDI para multiplicar sua renda fixa. No entanto, taxas chamativas podem ocultar riscos capazes de comprometer o capital investido.
Os CDBs (Certificados de Depósito Bancário) são títulos emitidos por instituições financeiras para captação de recursos, contando com a proteção do Fundo Garantidor de Créditos (FGC) até R$ 250 mil por CPF e instituição, oferecendo um colchão de segurança. Confiar apenas nessa proteção sem analisar a saúde do emissor pode levar a riscos desnecessários.
Dessa forma, o Investidor10 desenvolveu um guia prático para auxiliar na análise de CDBs e entender quando uma taxa acima do mercado representa uma verdadeira oportunidade ou um sinal de alerta.
Taxas muito altas: sinal de fragilidade?
Rentabilidades muito acima da média do mercado costumam refletir riscos elevados. Um banco sólido não precisa oferecer taxas tão altas para captar recursos, enquanto instituições fragilizadas utilizam taxas atrativas para convencer investidores. Se a taxa parece boa demais para ser verdade, há uma probabilidade de risco envolvido, o que exige uma análise mais detalhada.
Indicadores que todo investidor pode acompanhar
Não é necessário ser especialista para avaliar alguns números básicos dos balanços dos bancos:
- Índice de Basileia: mostra a relação entre capital próprio e ativos de risco. Quanto maior, melhor a capacidade do banco de absorver perdas. O mínimo exigido pelo BC é 10,5%. Quedas nos valores são um alerta.
- Patrimônio Líquido (PL): crescimento consistente é positivo; quedas recorrentes podem indicar fragilidade.
- Inadimplência (NPL): quanto maior a inadimplência, maior o risco de calote nos ativos.
- Provisões para Devedores Duvidosos (PDD): devem acompanhar o crescimento da inadimplência; se insuficientes, são um sinal de alerta.
- ROE (Retorno sobre o Patrimônio Líquido): lucros consistentes ou ROE elevado demonstram solidez; prejuízos recorrentes fragilizam a confiança.
Esses dados podem ser obtidos nos balanços das instituições, disponíveis em sites de RI (Relações com Investidores) ou no Banco Central.
Sinais externos de risco
Além dos números internos, é importante observar:
- Rebaixamentos de nota de crédito por agências de rating;
- Intervenções ou medidas cautelares do Banco Central;
- Notícias sobre dificuldades na captação ou mudanças abruptas na gestão.
Esses sinais podem indicar que uma taxa elevada em CDBs é uma tentativa de compensar riscos altos.
FGC: segurança real ou ilusão?
O FGC é uma proteção relevante, mas não deve ser considerado um seguro absoluto para investir em qualquer emissor. O limite é de R$ 250 mil por CPF e instituição (incluindo rendimentos), e há prazo para pagamento em casos de intervenção.
Segundo Thiago Costa Azevedo, sócio da Guardian Capital, a liquidez do fundo é estimada em apenas 2% do sistema bancário. Portanto, em uma crise sistêmica, pode haver atrasos nos pagamentos. O prazo oficial é de 60 dias úteis, mas geralmente os investidores recebem em até 30 dias em condições normais.
Assim, o FGC protege, mas não substitui a análise de risco. O investidor deve diversificar suas aplicações e evitar concentrar grandes valores em um único banco.
Estratégias para investir em CDBs com segurança
- Diversificação: não ultrapassar os limites do FGC e sempre distribuir entre emissores diferentes.
- Equilíbrio entre taxa e risco: buscar taxas competitivas, mas estar atento a rentabilidades muito acima da média.
- Prazo compatível com seus objetivos: títulos de prazo longo oferecem retornos maiores, mas exigem mais paciência; evitar comprometer a liquidez se precisar de recursos antes.
- Atenção às garantias: além do FGC, é fundamental observar a saúde financeira do emissor. Quanto mais sólido, menor o risco.
- Acompanhamento contínuo: mesmo após o investimento, é essencial monitorar o emissor e o mercado, pois a segurança percebida pode mudar.
Investir em CDBs que pagam acima de 100% do CDI pode ser uma boa oportunidade, desde que o investidor consiga distinguir entre taxas atrativas e riscos excessivos.
O fundamental é avaliar indicadores básicos, diversificar a carteira e compreender as limitações da proteção do FGC.