O debate sobre o futuro da Bolsa brasileira ganha destaque com a expectativa de um novo ciclo de flexibilização monetária previsto para 2026, considerando que a taxa Selic ainda está em 15%.
O mercado já projeta que cortes na Selic devem aumentar o apetite ao risco e, consequentemente, favorecer o retorno das Small Caps — empresas de menor capitalização que costumam apresentar ganhos acima da média circunstancialmente quando os juros diminuem.
Um relatório da Ágora Investimentos revela que, ao analisar os últimos seis ciclos de queda da Selic, o Ibovespa teve uma valorização média de 28% entre o primeiro corte e a estabilização da taxa.
O índice Small Caps, por sua vez, avançou 36% no mesmo período. Com ajustes feitos pela inflação (IPCA), o retorno real foi de 23% para o Ibovespa e 30% para as Small Caps.
Esse histórico reforça que os papéis de Small Caps são mais sensíveis à queda dos juros e capturam com mais intensidade a recuperação econômica.
O peso dos setores cíclicos
A composição dos índices é um diferencial importante. O Ibovespa possui uma característica mais defensiva, com forte presença de bancos e commodities, enquanto as Small Caps estão mais ligadas a setores cíclicos que se beneficiam diretamente da melhora do crédito e da renda.
O setor de Consumo e Varejo representa 23% do índice, incluindo empresas de e-commerce e bens duráveis que tendem a se expandir quando o crédito se torna mais acessível.
A Construção Civil, tendo um peso de 9%, também é beneficiada pela redução dos custos de financiamento imobiliário.
O setor de Shoppings e Imobiliário Comercial (8%) se beneficia, tanto do barateamento do capital, quanto do aumento do fluxo de consumidores em períodos de juros mais baixos.
Valuation e oportunidade
Além da composição setorial, há uma assimetria de preços favorável às Small Caps. Apesar do Ibovespa estar em máximas históricas, o índice de menor capitalização ainda está 40% abaixo de seu pico.
Atualmente, o Ibovespa negocia a um P/L de 7,2 vezes, enquanto a média histórica é de 10 vezes.
O índice Small Caps, por outro lado, negocia a 7 vezes, em comparação a uma média de 11,5 vezes. Essa diferença, somada ao perfil cíclico, cria uma janela de oportunidade para investidores dispostos a aceitar mais volatilidade.
Os riscos no caminho
Embora haja potencial, o relatório enfatiza que as Small Caps também apresentam riscos maiores. Essas empresas possuem menor liquidez, são mais voláteis e dependem muito do ciclo econômico.
Isso indica que, em períodos de instabilidade ou frustração de expectativas, elas podem enfrentar quedas mais significativas em comparação às grandes empresas do Ibovespa.
Por essa razão, a Ágora sugere uma estratégia equilibrada: manter uma exposição defensiva em blue chips — como bancos e commodities — e, ao mesmo tempo, incluir uma participação seletiva em Small Caps, capitalizando o desconto atual e a perspectiva de valorização com a redução da Selic.