O presidente do Banco Central (BC), Gabriel Galípolo, negou que o Banco Master ameace à saúde do sistema financeiro brasileiro, mas as taxas dos CDBs (Certificados de Depósitos Bancários) emitidos pela instituição financeira têm aumentado desde que sua venda à estatal Banco de Brasília — BRB (BSLI4) foi bloqueada pelo BC.
Com a venda do Banco Master interrompida, cerca de R$ 60 bilhões em depósitos e títulos segurados pela instituição estão sob pressão, resultando em CDBs com taxas de até 150% do CDI, com vencimento em fevereiro de 2026, disponíveis na plataforma da XP.
Outras modalidades de remuneração da renda fixa também apresentam taxas acima do normal no mercado secundário, onde as corretoras recolocam os CDBs resgatados antes do vencimento para novos investidores, atraídos por maior rentabilidade.
Por exemplo, os CDBs do Banco Master com vencimentos bem próximos podem oferecer taxas de IPCA+ 45% ao ano para o próximo mês, enquanto os prefixados chegaram a oferecer 37% ao ano para vencimento em janeiro de 2026.
Para prazos mais longos, os CDBs do Banco Master na plataforma BTG Pactual estavam oferecendo taxas prefixadas de 20% ao ano com vencimento em fevereiro de 2027, ou remuneração de CDI+ 3% ao ano com vencimento em abril de 2028.
O BC afirmou que a decisão de não permitir a venda do Banco Master à estatal do governo do Distrito foi técnica, mas isso não impediu especulações e movimentações de mercado no setor de renda fixa envolvendo os CDBs.
CDBs do Banco Master: investir ou fugir?
O Investidor10 consultou profissionais do mercado financeiro para esclarecer se quem já possui CDBs do Banco Master deve se desfazer desses títulos ou se quem está considerando investir ainda tem risco de calote.
“Se você já possui CDBs do Master, a primeira coisa é não entrar em pânico. O Banco Central bloqueou a venda ao BRB, aumentando a incerteza sobre o Master, o que resulta em ‘descontos’ nas plataformas e altas taxas por conta desse risco”, afirma Jeff Patzlaff, planejador financeiro que conversou com a nossa equipe.
Para Patzlaff, o mais importante é verificar se o saldo de cada aplicação em CDB está coberto pelo FGC, que cobre até R$ 250 mil por CPF ou CNPJ em investimentos no Banco Master. Se a posição for inferior a esse valor, a cobertura está garantida. É relevante mencionar que o FGC tinha um caixa de R$ 152 bilhões em maio.
“Não recomendo resgatar agora, pois haverá penalidade significativa. Não venda por pânico. Se você pode esperar, existe a chance de o FGC ser acionado se ocorrer o pior cenário”, avalia o planejador financeiro.
Se o investidor confia na cobertura do FGC ao optar por taxas de até 150% do CDI nos CDBs do Master, o especialista ressalta que esses rendimentos altos refletem o risco envolvido. Assim, o investimento precisa estar alinhado à tolerância do investidor e o montante aplicado, somado aos juros, não deve exceder R$ 250 mil.
FGC demora quanto tempo para pagar?
A situação mais crítica para quem possui CDBs do Banco Master seria precisar acionar o FGC para recuperar seu dinheiro caso o BC precise liquidar a instituição financeira, o que é mais provável já que a negociação com a estatal BRB não foi adiante.
De acordo com Cristiano Leal, especialista em investimentos, o principal custo envolve a oportunidade, pois o investidor terá seu dinheiro “preso” até o ressarcimento pelo FGC.
Atualmente, opções como CDBs de grandes bancos pagando 100% do CDI ou o Tesouro Selic oferecem atualmente rendimentos em torno de 15% ao ano, sem o risco de travar o capital em processos do BC e trâmites do FGC.
“Historicamente, o FGC tem atuado de forma relativamente rápida, mas o prazo não é fixo. Em casos recentes de liquidação de bancos pequenos e médios, o ressarcimento costuma levar até três meses, dependendo da complexidade do caso”, observa Leal.
O FGC geralmente divulga um cronograma após assumir a responsabilidade, e o pagamento é realizado por meio de bancos parceiros. É importante ressaltar que o valor devolvido considera a data da intervenção e não há remuneração entre a intervenção e o pagamento efetivo.
“Na prática, o FGC desempenha bem seu papel de proteção, mas o investidor deve estar ciente de que ficará sem acesso ao capital nesse intervalo, o que pode ser crítico para quem necessita de liquidez imediata”, conclui o especialista.
Por isso, Leal comentou com o Investidor10 que é improvável que quem não possui CDBs do Banco Master em carteira, antes de toda a situação com o BRB, encontre motivos convincentes para investir agora, considerando o nível de incerteza e mesmo com taxas atrativas.