O Nubank (ROXO34) confirmou sua entrada no mercado dos Estados Unidos, o que representa o passo mais ambicioso da fintech desde sua fundação.
Embora a reação inicial tenha sido positiva, com alta nas ações logo após o anúncio, nesta quarta-feira (1º) os papéis recuaram devido às incertezas sobre a estratégia da empresa.
A expansão para os EUA é encarada como uma aposta de longo prazo, mas pode apresentar riscos significativos no curto e médio prazo, visto que a fintech ainda enfrenta desafios de rentabilidade em suas operações fora do Brasil.
O que dizem os analistas
A corretora XP Investimentos (XPBR31) considera que os EUA oferecem uma robusta oportunidade, mas a operação terá que lidar com alta fragmentação e forte concorrência.
Segundo a corretora, o Nubank precisará dividir suas atenções entre três mercados: México, Colômbia e EUA.
“As operações no México e na Colômbia ainda precisam alcançar um nível sustentável de rentabilidade, enquanto no Brasil a empresa precisa ganhar tração em algumas iniciativas (clientes de alta renda e empréstimos consignados)”, destacou a XP em relatório.
Outro fator de preocupação é a falta de definição sobre o público-alvo nos EUA, seja o consumidor americano tradicional ou os estrangeiros residentes no país. Para os analistas, esta escolha será crucial para definir a estratégia da empresa.
O Bank of America (BofA) reforçou essa análise, enfatizando que o mercado bancário dos EUA é altamente competitivo, com elevada penetração e custos altos para a aquisição de depósitos, além de instituições tradicionais investindo fortemente em digitalização.
O JPMorgan apresentou uma perspectiva mais equilibrada, considerando que a expansão deve ser vista como uma estratégia de longo prazo, já que o processo de obtenção de licença de banco nacional pode levar de dois a três anos.
Algumas fintechs, inclusive, têm agilizado esse processo adquirindo licenças já existentes.
“No curto prazo, não esperamos um impacto significativo no lucro por ação (LPA) do Nubank. No entanto, se a estratégia for bem executada, poderá ampliar significativamente o mercado potencial e os lucros da companhia”, afirmaram os analistas.
Mercado de alto potencial, mas de grandes barreiras
Os Estados Unidos representam um mercado com dimensões muito maiores em comparação aos países onde o Nubank opera atualmente.
Os saldos de cartão de crédito no país ultrapassam US$ 1 trilhão, cerca de dez vezes o volume do Brasil e quatro vezes maior que o do México.
Além disso, o sistema bancário dos EUA gerou um lucro líquido estimado em US$ 260 bilhões em 2024, tornando-o um alvo estratégico para qualquer instituição financeira global.
No passado, o Nubank considerou adotar uma estratégia regionalizada, começando por estados como Flórida, Texas e Califórnia, onde há uma grande presença de comunidades latinas, o que poderia facilitar a entrada.
O desafio: qual problema resolver?
Se no Brasil o Nubank conseguiu crescer ao atacar as altas tarifas bancárias e a insatisfação com grandes bancos, e no México ao oferecer opções frente aos baixos rendimentos de depósitos, a situação nos EUA é mais complexa.
“O grande desafio será definir qual dor resolver. Embora atender clients já existentes possa criar oportunidades de vendas cruzadas, observamos o Inter (INBR32) adotando uma abordagem semelhante nos últimos anos, com resultados mistos”, concluiu o JPMorgan.
