O mercado financeiro foi alvo da Polícia Federal na manhã desta quinta-feira (25). A Operação Spare cumpriu mandados de busca e apreensão em São Paulo e em vários municípios da região metropolitana.
As investigações indicam o uso de estruturas financeiras formais para lavar dinheiro do crime organizado. Os investigadores afirmam que combustíveis adulterados eram vendidos e o dinheiro obtido era utilizado para dar legitimidade aos recursos ilícitos dos criminosos.
A PF identificou Flávio Silvério Siqueiro, conhecido como Flavinho, como o chefe do esquema de combustíveis. A imprensa tentou contatar o acusado, mas não recebeu resposta até a data da reportagem.
A Operação Spare faz parte da Carbono Oculto, que foi oficialmente reconhecida por órgãos policiais no mês passado. Na ocasião, diversas gestoras da Faria Lima estavam envolvidas no caso, pois seus fundos de investimentos também eram utilizados no esquema de lavagem de dinheiro.
Desta vez, o foco está nos postos de combustíveis, que, segundo a Receita Federal, somam mais de 260. Juntas, as empresas de fachada teriam movimentado mais de R$ 4,5 bilhões entre 2020 e 2024.
A RF observa que, embora tenha registrado esse valor, essas empresas teriam repassado apenas R$ 4,5 milhões ao Fisco, o que representa 0,1% das receitas e está bem abaixo da alíquota média para pessoas jurídicas.
Durante as investigações, foram identificadas conexões entre os alvos da “Operação Spare” e indivíduos envolvidos em outras ações contra o crime organizado, incluindo a “Operação Carbono Oculto” e a “Operação Rei do Crime”. Os indícios incluem transações comerciais e imobiliárias, uso compartilhado de helicópteros e reservas conjuntas de passagens para viagens internacionais, conforme nota da RF.
Os investigados também são acusados de utilizar motéis para efetuar operações imobiliárias de R$ 6,8 milhões. Além disso, as empresas teriam adotado essas estratégias para a construção de empreendimentos na região de Santos na década de 2010, mantendo a propriedade oculta.
A Receita Federal explica que o nome da operação se refere ao jogo de boliche, onde o ‘spare’ acontece quando o jogador derruba todos os pinos após dois arremessos. “No contexto do combate à organização criminosa, a ‘Operação Carbono Oculto’ seria o primeiro arremesso, e a operação de hoje, o segundo, finalizando o objetivo inicial”, esclarece.
Novas apurações sobre BK Bank
Nesta nova operação da Receita Federal, uma empresa reaparece no foco das investigações, já mencionada na Carbono Oculto. O BK Bank, fintech especializada na oferta de cartões de benefícios, é considerada pelos investigadores parte do braço financeiro do esquema criminoso.
As investigações mostram que os criminosos se aproveitam do sistema de contas-bolsão para ocultar patrimônio em cadastros no banco digital. Esse modelo, anteriormente autorizado pelo Banco Central, permite que uma fintech mantenha os saldos de vários clientes em uma única conta, sem individualizar as informações.
A Receita indica que esse mecanismo foi utilizado para transferir quantias bilionárias entre usinas e distribuidoras de combustíveis, além de para fundos de investimentos geridos por empresas da Faria Lima.