A Previ, fundo de pensão do Banco do Brasil (BBAS3), decidiu em setembro de 2023 reduzir a exposição em renda variável em cerca de R$ 7 bilhões, diminuindo total ou parcialmente posições em doze companhias.
A BRF (BRFS3) já teve uma saída em curso que rendeu R$ 2 bilhões. O motivo é que o retorno das ações, incluindo dividendos, ficou abaixo do esperado em relação ao custo atuarial, e a entidade identifica uma melhor relação risco-retorno em NTN-B (Tesouro IPCA+) para garantir a imunização do passivo.
A direção afirma que todas as movimentações estão de acordo com a política de investimentos aprovada pela diretoria e pelo Conselho Deliberativo, e, como parte das operações ainda está em execução, os demais nomes não foram divulgados.
Por que trocar ações por NTN-B agora
A troca prioriza títulos indexados à inflação com cupom real, que se adequam melhor às obrigações futuras do plano, cujos benefícios são corrigidos por índices de preços.
Ao alongar a duration em NTN-B, a Previ busca reduzir o descompasso entre ativos e passivos, suavizar a volatilidade dos resultados e ancorar a meta atuarial.
Na prática, a decisão diminui a dependência de ciclos de bolsa e de distribuição de dividendos em um momento de incerteza tanto doméstica quanto externa.
A venda de ações tende a aumentar a oferta momentânea em papéis-alvo, uma pressão que geralmente é transitória quando bem coordenada e comunicada.
No mercado de renda fixa, a demanda adicional por Tesouro IPCA+ pode aumentar a liquidez na curva real e influenciar os prêmios de risco de longo prazo.
Para investidores individuais, o movimento reforça a ideia de diversificação; janelas táticas na bolsa podem ser utilizadas juntamente com uma alocação estruturada em NTN-B para objetivos previdenciários.
Resultado volta ao azul e supera a meta
Com patrimônio de R$ 267 bilhões, a Previ reporta que o Plano 1 reverteu perdas e apresenta superávit aproximado de R$ 1 bilhão em 2025, com ganho de R$ 4,1 bilhões no ano.
Em agosto, o rendimento foi de 1,84%, acumulando 8,97% em 2025 — acima da meta atuarial de 6,41% (INPC + 4,75%). A recuperação foi impulsionada por renda variável (+13,4%) e renda fixa (+7,3%); empréstimos (+6,4%) e imóveis (+3,2%) também contribuíram. Fundos estruturados (+20,8%) têm peso pequeno; exterior (-3,7%) teve desempenho negativo.
No total até agosto, os investimentos somaram R$ 19 bilhões de resultado: R$ 10,5 bilhões em renda fixa, R$ 7,7 bilhões em ações e R$ 0,8 bilhão em outras classes.
Após o déficit de 2024, investigação do TCU
A Previ finalizou 2024 com déficit de R$ 17,6 bilhões após apresentar superávit de R$ 14,5 bilhões em 2023; o saldo comparável foi de déficit de R$ 3,16 bilhões.
Nesse contexto, o TCU iniciou um levantamento que foi convertido em auditoria, analisando procedimentos de investimento e desinvestimento, a indicação de conselheiros em empresas investidas e operações imobiliárias. Até o momento, não há decisão do Tribunal.
A gestão atribui a oscilações nos resultados à volatilidade do mercado e destaca que a realocação para NTN-B segue a estratégia previdenciária de longo prazo.
O que acompanhar daqui em diante
O foco deve estar no timing e no ritmo das vendas para mitigar o impacto nos preços, na duration média das novas NTN-B, no desempenho relativo em relação à meta atuarial e em eventuais ajustes táticos caso haja mudanças no cenário de inflação e juros.
Para o mercado, é importante saber quais empresas, além da BRF, terão participação reduzida e como isso influencia a governança (cadeiras em conselhos) e a liquidez dos papéis afetados.