A temporada americana de resultados está prestes a começar, com a XP Research projetando um crescimento de 8,3% no lucro por ação (LPA) das empresas do S&P 500 em relação ao ano anterior. Isso sugere um desempenho robusto, embora com indícios de desaceleração.
“O cenário é favorável, marcado pela resiliência do consumidor americano, redução das distorções causadas por tarifas e grande proporção de guidances positivos”, destaca o relatório assinado pelos estrategistas. Eles ponderam, contudo, que o suporte cambial e outros fatores favoráveis do trimestre passado podem perder força, limitando surpresas positivas nos balanços das empresas.
Resiliência do consumo e estabilidade nas projeções
A XP aponta que a economia dos Estados Unidos está em um importante ponto de transição. O Federal Reserve reiniciou o processo de afrouxamento monetário, enquanto os efeitos das tarifas e a desaceleração no mercado de trabalho continuam a gerar incertezas. Apesar disso, o consumo segue firme. Os gastos reais de consumo pessoal aumentaram 1,6% entre o primeiro e o segundo trimestre, e os indicadores do 3T25, como as vendas no varejo, indicam a continuidade dessa tendência.
“Embora estejamos começando a ver os primeiros sinais de que os custos tarifários estão sendo repassados aos consumidores, a magnitude até agora tem sido limitada”, afirma a equipe da XP.
No câmbio, o efeito positivo de um dólar mais fraco perdeu força. Após beneficiar os lucros das multinacionais no segundo trimestre, o índice DXY se manteve praticamente estável, diminuindo o impulso adicional sobre receitas e margens.
Outro ponto relevante, segundo o estudo, é que as projeções de lucro não caíram ao longo do trimestre. Historicamente, as estimativas tendem a ser revisadas para baixo, mas, desta vez, houve um leve aumento de 0,1%. “Nos últimos cinco anos, a média de revisão do LPA trimestral é de -1,4%. Desta vez, tivemos uma pequena alta, o que demonstra a confiança das companhias”, escrevem os analistas.
Big Techs dividem o palco com o resto do índice
O protagonismo das gigantes de tecnologia persiste, mas com menor intensidade. Pela terceira vez consecutiva, as “outras 493 empresas” do S&P 500 devem contribuir mais para o crescimento dos lucros em comparação com as chamadas Magnificent 7 (Apple, Microsoft, Google, Amazon, Meta, Tesla e Nvidia).
“Embora ainda seja impressionante que apenas sete empresas representem cerca de 42% do crescimento total do índice, não seria sustentável esperar que a Nvidia, por exemplo, mantenha um crescimento de três dígitos por muito tempo”, pontua a XP.
Entre os setores mais promissores, a XP destaca tecnologia e utilidades públicas. No primeiro, a inteligência artificial continua a ser o vetor de crescimento, enquanto o segundo se beneficia da alta demanda energética de data centers e infraestrutura digital. O setor financeiro também se destaca, sustentado por um ambiente regulatório mais flexível e por taxas de juros favoráveis aos bancos.
Por outro lado, energia e bens de consumo devem ser os principais entraves ao crescimento dos lucros nesta temporada de resultados. A XP atribui essa tendência aos preços mais baixos do petróleo e aos efeitos residuais das tarifas impostas no primeiro semestre de 2025.
Margens no radar do Fed e dos investidores
O relatório destaca um fator atípico: em meio ao shutdown do governo americano, os números corporativos podem ganhar ainda mais relevância nas decisões do Federal Reserve. “Com a maioria das divulgações de dados econômicos suspensas, as margens de lucro das empresas se tornam ainda mais relevantes para a direção da política monetária americana”, diz o relatório.
Apesar das incertezas, o tom final do estudo é de equilíbrio. “Esperamos uma temporada de resultados forte, mas com crescimento em linha com as estimativas. Os resultados são sólidos e saudáveis, em sintonia com a desaceleração observada nos últimos trimestres, sem grande espaço para surpresas positivas”, concluem os analistas da XP.