Os investidores mais agressivos que aplicaram recursos nos COEs (Certificados de Operações Estruturadas) da Ambipar e da Braskem enfrentaram perdas significativas, com os produtos vinculados a essas companhias perdendo até 93% do seu valor, resultando em grandes prejuízos.
Se um investidor aplicou R$ 1 mil em um COE com dívidas da Ambipar (AMBP3), por exemplo, esse valor foi reduzido a apenas R$ 70. As informações foram fornecidas por corretores como XP Investimentos e BTG Pactual, que frequentemente oferecem esses produtos aos seus clientes.
O curioso é que os COEs são muitas vezes categorizados como renda fixa, o que deveria oferecer maior segurança aos investimentos. Entretanto, para proporcionar uma rentabilidade superior, as gestoras precisam expor o capital a algum produto de renda variável, como ações ou índices, o que aumenta o risco.
Segundo dados da B3, no ano passado, mais de R$ 90 bilhões estavam investidos em COEs no Brasil, a maior parte atrelada ao Ibovespa, que mede o mercado acionário nacional.
A outra parte está ligada a dívidas de empresas, como debêntures, e não conta com a proteção do FGC (Fundo Garantidor de Crédito). Esse é um problema, pois a Ambipar, enfrentando uma crise financeira, estava na lista dos COEs de crédito.
Após o anúncio da companhia sobre uma decisão judicial para proteção contra dívidas, os títulos negociados no mercado secundário despencaram, assim como os COEs, que sofreram quedas acentuadas nas últimas semanas.
Apesar de muitos investidores não compreenderem o funcionamento do COE, os termos dessa categoria de investimento preveem resultados adversos. Assim, as opções são limitadas a apresentar reclamações em órgãos de defesa do consumidor.
Investidores reclamam
Levantamentos feitos pela reportagem em sites de reclamação revelam usuários relatando perdas em seus investimentos. Algumas pessoas que aplicaram todo o patrimônio acumulado agora enfrentam prejuízos.
“Apliquei R$ 68 mil no COE da Ambipar, que foi sugerido pela XP Investimentos como um investimento de baixo risco”, relata um usuário. “Não sou especialista e acreditei na consultoria, não percebi que era capital de risco. A gerência disse que os papéis eram bons. Um dia percebi que meu investimento derreteu. O banco trata isso como um problema meu!”, continua.
O mesmo ocorre com ativos expostos à Braskem (BRKM5), que também passa por dificuldades. Somente neste ano, as ações já caíram mais de 40%, conforme dados da B3.
“Hoje, ao verificar minha conta na XP, fui surpreendido pela liquidação do COE da Braskem, sem qualquer aviso. Este COE foi indicado por meu assessor em março de 2024 e já me trouxe prejuízos em tão pouco tempo”, escreveu outro investidor. “Se a Braskem já enfrentava dificuldades, por que não fui notificado para tomar alguma ação antes desse prejuízo? Já havia notícias sobre isso meses atrás”, questionou.
Para quem o COE é indicado?
Tanto a XP quanto o BTG explicam em suas páginas como funciona o investimento em COEs. A corretora de Guilherme Benchimol destaca que pode combinar produtos de renda fixa e variável para oferecer melhores cenários aos consumidores.
“Cada COE possui características específicas e, antes de investir, você já conhece os possíveis retornos em diferentes situações, o tempo para manter o investimento e se há possibilidade de resgates antecipados, conforme as condições do mercado”, diz.
No site da XP, há também uma lista com todos os COEs disponíveis para investimento, mostrando as empresas e tipos de pagamento da rentabilidade. Entre elas estão empresas nacionais, como Eletrobras e Minerva, e internacionais, como Ford e Berkshire Hathaway.
O BTG explica que o produto oferece ao investidor a segurança da renda fixa, sem detalhar muito sobre os riscos envolvidos. “Os ganhos são apenas comparáveis à rentabilidade que o investidor poderia ter com produtos que acompanham a taxa básica de juros”, esclarece.
“Você minimiza ou elimina sua perda financeira caso o ativo investido apresente resultado negativo no vencimento, mas ganha se o resultado for positivo. Trata-se de um investimento que combina o baixo risco da Renda Fixa e o potencial ganho da Renda Variável”, complementa a corretora.
Sempre envolvido em polêmicas
Os COEs têm sido frequentemente discutidos no mercado de capitais. Desde o ano passado, o produto tem sido alvo de reclamações devido ao seu modelo, considerado problemático por muitos.
Em março, a Grizzly Research classificou os COEs como um esquema de pirâmide promovido por corretoras brasileiras. A empresa de análises dos Estados Unidos divulgou um relatório afirmando que muitas corretoras que vendem o produto dependem dele para alcançar resultados financeiros satisfatórios.
Na ocasião, a XP foi o foco da polêmica, o que resultou em uma queda de mais de 6% em suas ações na bolsa. A empresa se manifestou, afirmando que o relatório da Grizzly se tratava de uma “notícia falsa” e que não levava em consideração o cenário tributário brasileiro.
“O resultado das carteiras da XP é decorrente da atuação em variados mercados e instrumentos nos quais a empresa tem participação significativa, especialmente quanto à remuneração por serviços de formação de mercado e liquidez em diversos segmentos financeiros”, reportou a XP.
Grande parte da pressão do mercado sobre o ativo se deve ao fato de que as corretoras promovem campanhas de marketing agressivas para vendê-los. Além disso, oferecem comissões acima da média de outros produtos, incentivando agentes financeiros a direcionar clientes para essa categoria, que pode não ser tão vantajosa.
O interesse das corretoras em relação ao ativo se sustenta na possibilidade de reduzir a carga tributária por meio de manobras que utilizam o COE. Enquanto o imposto normal é de 40%, transações financeiras realizadas via COE implicam apenas 15% de tributação.